quinta-feira, 9 de julho de 2015

O Todo e as partes


O Todo e as partes

Quando olhamos para um pedaço de copo partido, podemos saber ou ter uma ideia do real formato daquele que foi um copo inteiro, mas nunca teremos bem a certeza desse formato na sua totalidade. Em relação às religiões aplica-se algo similar. Quando olhamos para elas em separado, podemos ter uma ideia de Deus, um vislumbre do Todo, mas não é o Todo.
Deus está para além de qualquer religião. As religiões são o berço da espiritualidade humana. Foi graça a elas que a humanidade cresceu na espiritualidade. Também foi graças às religiões que a humanidade cometeu e continua a cometer os crimes mais hediondos. Quando por orgulho achamos que a nossa religião é melhor que a do vizinho e por causa disso matamos, criticamos e menosprezamos as outras religiões e credos, estamos precisamente a olhar(egoicamente) apenas do ponto de vista dos “pedaços partidos do copo”.
A espiritualidade está intrínseca em nós, somos seres naturalmente vocacionados para a busca interna, para o transcendental. É apenas uma questão de tempo. Muitos de nós(humanos) ainda não chegamos lá, ainda não despertamos esta vocação para a espiritualidade, mas chegará o tempo em que isso irá acontecer.
Penso que se formos “beber” um pouco a todas as religiões, encontraremos respostas a muitas questões espirituais. O simples facto de admitirmos que a nossa alma regressa vida após vida para vir aprender aspectos que não aprendeu em vidas anteriores, para vir corrigir erros do passado, para vir fazer o bem, só por si é resposta a muitas questões.
Gradualmente e ao longo da minha existência fui-me apercebendo que as religiões são as pérolas desse colar de Deus. Sozinhas, cada uma tem o valor que tem, ficado por vezes limitadas ou por outro lado sobre valorizadas. Unidas, formando um colar, as pérolas tem mais força. O brilho de umas pode compensar a falta de brilho de outras. Todas elas são importantes para que o colar Deus brilhe na sua totalidade…
Por mais que as religiões sejam diferentes umas das outras,  sempre um ou vários pontos comuns entre elas e são esses pontos comuns os elos de ligação do "colar de Deus"

O Todo será a verdade ou o que intuímos como verdade. As partes ou pedaços, são apenas aspectos dessa verdade, mas nunca a verdade em si mesma.

Um pouco a propósito disto deixo aqui um texto de um autor que gosto muito - Eckhart Tolle:


"A Igreja Católica e outras têm na verdade razão ao identificar o relativismo, a crença de que não há nenhuma verdade absoluta a guiar a conduta humana, como um dos males dos nossos tempos; mas não podemos encontrar a verdade absoluta se a procurarmos onde ela não existe: nas doutrinas, nas ideologias, nos conjuntos de regras ou nas histórias. O que têm todas estas coisas em comum? Todas são constituídas por pensamentos. Na melhor das hipóteses, o pensamento pode apontar para a verdade, mas nunca é a verdade. Esta é a razão pela qual os budistas afirmam: «O dedo que aponta para a Lua não é a Lua.» Todas as religiões são igualmente falsas e igualmente verdadeiras, dependendo do modo que são utilizadas. Podemos utilizá-las ao serviço do ego ou ao serviço da Verdade. Se acreditarmos que apenas a nossa religião é a detentora da Verdade, estamos a usá-la em prol do ego. Usada desta forma, a religião torna-se uma ideologia e cria uma sensação ilusória de superioridade, bem como a divisão e o conflito entre as pessoas. Ao serviço da Verdade, os ensinamentos religiosos representam sinais ou mapas deixados por seres humanos despertos para nos ajudar no nosso despertar espiritual, ou seja, na libertação da identificação com a forma."
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo pag 63)


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