Todos nós temos um “lado lunar”,
um lado sombrio. Todos nós somos a soma desses dois lados, o positivo e o
negativo.
Não adianta esconder, mais tarde
ou mais cedo ele se revelará. A maior parte das pessoas pensam que se conhecem,
pensam que tem o perfeito controlo das suas emoções. Mas, postas à prova numa
situação à qual não estão preparadas, tudo muda.
Somos todos boas pessoas até ao
dia em que nos salta a tampa e estragamos tudo…
Todos temos em grau maior ou
menor um pouco de inveja, ira, avareza, gula, preguiça, soberba e luxuria, que
são na tradição Cristã, os 7 pecados mortais. Os antigos egípcios chamavam-lhes
de “demónios vermelhos de Seth”. Eu prefiro chamar de egos, eus ou defeitos
psicológicos.
Não pretendo de maneira alguma
dar alguma lição de moral ou de bons costumes, apenas falar da minha
experiência em relação ao meu “lado lunar”, dissertando sobre este assunto.
Dizem os entendidos que a maior
parte da humanidade tem a consciência desperta em apenas 3%. Bastava que tivéssemos
10% de consciência desperta para deixar de haver guerras no mundo. Ou seja 97%
da nossa consciência “dorme” profundamente. Embora possamos parecer acordados,
estamos apenas a viver consoante a ditadura dos meios de comunicação social,
das modas, dos vícios, das políticas economicistas e de milhentas outras coisas
que servem apenas para nos distrair e manter-nos fora da nossa essência, impedindo
o verdadeiro despertar da nossa consciência.
Basta abrir a TV em qualquer um
dos canais para vermos programas que são única e simplesmente para adormecer ainda
mais as consciências. Basta ir a um banco para nos impingirem todo o tipo de empréstimos
e cartões de crédito. Se temos um mal físico ou psicológico, entopem-nos de remédios.
Enfim, a ideia geral é ficarmos em “sono
profundo”, dependentes de qualquer coisa, enquanto estamos “agarrados” seremos
sempre escravos e alimento de algum interesse económico.
Para além das inclinações e
aspetos psicológicos mais negativos ou não que já vêm connosco desde o nosso
nascimento, temos durante a nossa vida uma sociedade que nos vai moldando
consoante a época em que nascemos. Todas estas “distrações” são um campo
propício para se desenvolver em nós aspectos mais negros, mais negativos.
Todos nós temos uma máscara que
em maior ou menor grau vai sendo utilizada para disfarçar os defeitos ou egos.
Em certos indivíduos essa máscara já se confunde com a propria pessoa. A dada altura já
não se sabe qual a verdadeira personalidade. Para essas pessoas é muito difícil
aceitarem que são por exemplo invejosas ou egoístas.
O primeiro passo é precisamente
aceitar que temos defeitos para de seguida identifica-los. Para isso é necessária
muita auto-observação e auto-crítica.
Se ao invés de olharmos para o
nosso vizinho do lado, invejando-o ou comentando o que tem ou o que fez,
olhasse-mos para o nosso interior, aprendendo como se movem os nossos
pensamentos, observando-os mas deixando-os passar sem lhes dar grande importância,
lucraríamos muito mais. O ego serve-se de mil e uma estratégia para nos levar a dizer
e a fazer coisas que num estado mais desperto não o faríamos.
Quando estamos irritados e não
temos paciência para “aturar” o marido, a esposa, os filhos, os nossos colegas de
trabalhos ou simplesmente um cãozinho que está a passar ao nosso lado, a solução
passa muitas vezes por tentar ir ao porquê dessa irritabilidade, o que me
motivou a estar assim? Porque agi deste modo? Se queremos que essa
irritabilidade não passe para um estado de ira pura, devemos de observar o
nosso interior.
A meditação é a melhor ferramenta
para fazer esse auto-estudo diário. Não é necessária nenhuma posição especial,
basta estarmos sentados ou deitados num sítio calmo e fechar os olhos, fazer
umas respirações profundas e tentar acalmar a mente. Com o corpo e a mente
calma, podemos rever o nosso dia (de trás para frente, ou de frente para trás),
identificando um ou outro momento menos bom, em que notamos que não fomos muito
corretos com alguém. Basta escolher um episódio. A ideia é procurar explorar
onde se originou esse problema com essa pessoa. Como que numa espécie de auto-regressão,
tentar ir mais atrás no tempo e procurar outros episódios com essa pessoa, de certeza
que se vai encontrar a origem, o que causou o início do problema. Identificada
a origem do problema, pedimos perdão. Como que em forma de oração pedimos
perdão à pessoa lesada e se formos crentes, pedir perdão a Deus. O ideal seria
falar diretamente com a pessoa em questão, despir-nos dessa máscara, e
pedir-lhe perdão com sinceridade.
É um exercício simples mas ajuda
a autoconhecermo-nos melhor e ajuda-nos a que uma próxima vez tomemos consciência
para que não caiamos no mesmo erro anterior.
Não devemos nunca negar os nosso
defeitos ou egos, nem botar uma maquilhagem para os disfarçar, nem os colocar
dentro de um caixote, nem os reprimir. Um dia, quando menos esperarmos eles
sairão com muita mais força. É com uma panela de pressão, se a taparmos
totalmente, ela rebenta! e as consequências podem ser muito desagradáveis!!!
Não é por acaso que existem assassinos,
pedófilos, violadores, ladrões e outro tipo de malfeitores. Esses são apenas
indivíduos que alimentaram em demasia os egos, tornando-os como seus,
divinizando-os. Não souberam na devida altura aprender com os erros. As oportunidades foram-lhes postas à frente e não as aproveitaram para se conhecerem melhor.
O erro, a falha, a manifestação de um ego, são a oportunidade sagrada para melhorarmos. Só caindo nos podemos levantar, Só errando, podemos aprender.
O erro, a falha, a manifestação de um ego, são a oportunidade sagrada para melhorarmos. Só caindo nos podemos levantar, Só errando, podemos aprender.
Aceita-te como és, mas procura
melhorar a cada dia que passa…
Paulo Pascoal